Graças à enorme exploração da prata, Potosí já foi a cidade mais rica do mundo. Hoje, toda a prata praticamente se acabou, mas a atividade mineira continua. Conheça como é uma destas minas por dentro, e como é duro o trabalho dos mineiros!
Referência (abril/2016)
1 real = 1,90 bolivianos
A atividade mineira em Potosí começou junto com a fundação da cidade, em 1545. Assim que se descobriu que o Cerro Rico era cheio de prata, a Espanha já começou a construção da cidade que hoje é Potosí.
Esta cidade cresceu tanto que chegou a ser a mais rica e a segunda maior do mundo em meados do século XVII. Em 1825, porém, a prata já havia praticamente acabado.

Hoje a cidade ainda se dedica à mineração, mas esta atividade já não é mais tão rentável quanto nas épocas de colônia. As minas, que antes pertenciam à coroa, passaram pela mão de companhias privadas, depois foram estatizadas e hoje são compartilhadas por diferentes cooperativas.
Atualmente, o passeio turístico mais interessante de Potosí é a visita a estas minas.

Um trabalho sofrido
No tempo dos espanhóis, o trabalho duro nas minas era realizado por índios escravizados. Conta a história que estes indígenas chegavam a passar de 4 a 6 meses trabalhando sem parar dentro das minas, comendo e dormindo lá dentro, sem ver a luz do sol. Mortes por acidente, soterramento, fome ou doenças eram mais que comuns. Frei Domingo de Santo Tomas, missionário da época, escreveu: “Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e sangue dos índios”.
Hoje, porém, os mineiros trabalham em condições melhores, não mais que 10h por dia, e acidentes são raros – pelo menos é assim a história que os guias vão te contar. A Michele não se sentiu bem para entrar e esperou do lado de fora da mina. Com isso, teve a oportunidade de conversar diretamente com os mineiros. A versão da história que eles contaram é bastante diferente: disseram que chegam a ficar 3 dias seguidos trabalhando lá dentro, sem comer ou dormir, alimentados somente pelas folhas de coca que levam. Segundo eles, acidentes também são comuns, e não são poucas as pessoas com braços ou pernas destroçados por pedras ou pelos carrinhos que transportam os minerais. Tudo isso para receberem um salário que não passa dos 100 bolivianos por dia (pouco mais que 50 reais).

Os ídolos das minas
Os espanhóis não trabalhavam dentro das minas, mas precisavam controlar que o trabalho fosse realizado de alguma forma. Para isso, construíram ídolos para observar os escravos. Supostamente, se eles não trabalhassem, seriam punidos pelo “tio”.
Os “tios” têm este nome por conta da palavra “deus” em espanhol (dios). Como a língua local não tinha o som do “d”, os índios o chamavam de “tios”, e com o tempo ficou “tio”.

Os ídolos foram construídos à imagem do diabo cristão, pois este supostamente era quem controlava tudo o que estivesse abaixo da terra. Se os índios não trabalhassem, seriam punidos por ele.
Com o tempo, porém, estes ídolos acabaram se tornando uma espécie de protetor dos mineiros, e até hoje são oferecidas a eles oferendas, como cigarros, folhas de coca e aguardentes.
As agências
Há muitas agências de turismo em Potosí, e todas elas oferecem o tour às minas. Os preços variam de 70 até 160 bolivianos. As mais caras costumam dizer que cobram este preço porque visitam minas de verdade, enquanto as outras vão em minas que já não estão mais em operação, ou que levam grupos pequenos, enquanto as outras podem levar até 20 pessoas. Tudo balela: fomos com a mais barata que encontramos (Altiplano Viajes y Turismo – 70 bolivianos) e o tour foi bem completo.
Os passeios saem pela manhã (entre 8h30min e 9h30min) ou pela tarde (entre 13h30min e 14h30min) e duram cerca de 4h. Se quiser ver uma atividade maior dos mineiros, prefira os tours que saem pela manhã.

O tour
O passeio não chega a ser pesado ou exaustivo, mas não é recomendável para quem tem claustrofobia. Os caminhos são relativamente amplos e poucas vezes você terá que caminhar agachado, mas o ar é pesado e se adentra bastante, o que pode ser um pouco desesperador para quem não está acostumado.

Sobre o lado ético e social, os sentimentos são múltiplos: por um lado, é muito interessante e enriquecedor conhecer o trabalho duro destas pessoas; faz você pensar duas vezes antes de reclamar da sua vida. Por outro lado, não me senti bem caminhando com cara de bobo e uma câmera fotográfica cara enquanto aqueles homens empurravam carrinhos de 1 tonelada. Parecíamos gringos fazendo turismo nas favelas do Rio. O que ajuda a reconfortar é saber que parte do dinheiro da excursão vai para as cooperativas, para que possam comprar comidas e presentes para os mineradores no natal.

Enfim, vamos lá:
Nosso tour partia da agência às 9h da manhã, em um grupo composto por 10 turistas e 2 guias (vai um na frente e um atrás para garantir que ninguém se perca). A primeira parada é em um mercado mineiro, onde se pode comprar presentes para os mineiros que encontramos no caminho. Ainda que não seja obrigatório, é de praxe comprar o kit com folhas de coca e um refrigerante (14 bolivianos). Se quiser, compre em outro lugar e leve – vai sair um pouco mais barato.

Aqui também é possível comprar dinamites (20 bolivianos). A compra de dinamites sem documentos é ilegal em praticamente todo o mundo, mas em Potosí é permitido. Se quiser comprar uma, pergunte ao seu guia se vai ser possível passar em algum lugar seguro para explodi-la. Geralmente não haverá problemas.
A partir daí, seguimos até uma oficina da agência, onde vestimos os macacões, os capacetes, as botas e as lanternas para seguir as minas.
Demos uma passada no topo do cerro para tirar umas fotos da cidade de Potosí, e daí partimos para as minas.

A entrada da mina já assusta: com quase 500 anos, a entrada ainda leva a cara dos tempos coloniais. Não há grandes máquinas ou equipamentos modernos: o transporte dos minerais ainda é feito por pequenos carrinhos empurrados à mão, que lembram os filmes de Indiana Jones.

A partir daí, seguimos caminhando em fila indiana, de tempos em tempos tendo que desviar dos carrinhos que passavam (lembrando que estamos em uma mina em plena atividade).
Nossa primeira passada foi no “tio”, onde o guia nos contou um pouco da história das minas. Aproveitamos para fazer nossas oferendas e provar um pouco da aguardente dos mineiros (essa é das boas: teor alcoolico de 96%!).
Seguimos caminhando pelas inúmeras galerias e conversamos com vários mineiros, entendendo melhor como é seu trabalho e seu dia-a-dia por ali (nenhum destes foi sincero como os que conversaram com a Michele). Depois de quase 2h caminhando, finalmente voltamos a ver a luz do sol.

Pegamos a van de volta, deixamos as roupas da mina na oficina e descemos no centro de Potosí por volta das 13h.
Sem dúvidas, este passeio foi uma grande lição em nossas vidas.
Quer visitar Potosí? Não deixe de ler nosso post completo sobre a cidade aqui.
E aí, curtiram o post? Se quiser saber mais sobre a Bolívia, leia os detalhes do nosso mochilão por lá aqui.
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Fiquei bastante interessada em conhecer, com certeza não dá pra comparar, mas me fez lembrar as minas de Ouro Preto/MG.. vcs chegaram a conhecer?
Gde agraço ao casal!!!
Olá Vania! Sem dúvidas é um passeio bem enriquecedor!
As de Ouro Preto ainda não conhecemos. Tomamos a decisão de mochilar pelo Brasil no final da nossa viagem. Queremos deixar o melhor para o final! 🙂
Abração!!
Assisti um documentário sobre essa Mina del Diablo e me lembrei na hora das aventuras do meu casal querido e voltei aqui correndo para reler.
O documentário me deixou possessa: há um ritual em que eles pegam uma llama, enfeitam e tal e depois cortam o pescoço e ficam se lambuzando com o sangue, jogando o sangue nas paredes da mina… isso tudo na frente de crianças chorando e quem quisera ver. Odiei!!! Sei que é cultural, mas.. poxa!…. Ai jurei para meu professor de espanhol (que é de Potosí!!!) que lá eu não boto o pé rs.. vcs chegaram a ver/ouvir falar sobre algo relacionado a isso por lá?
Bjo enorme ao casal e espero que a Mi esteja melhor da Dengue.
Olá Vânia!
Existe um ritual assim mesmo, mas acho que não é tanto na cidade de Potosí. É mais nas cidades pequenas deste estado.
Nós vimos algo parecido na festa do Tinku, Só que não fizeram com uma lhama, mas sim com uma vaca. Bem pesado mesmo. Nós não aguentamos ver até o fim e fomos embora.
Nós escrevemos uma postagem sobre o Tinku. Não sei se chegou a ver:
http://mundosemfim.com/festival-de-tinku-bolivia-a-verdade-sobre-um-dos-festivais-mais-brutais-do-mundo/
Este foi, sem dúvidas, a festa mais extrema que já vimos.
Ah, a Michele já está bem melhor sim! 🙂
Beijos!!!!