Como foi cruzar da Mongólia para a província de Xinjiang (China) – a fronteira mais tensa que já cruzamos até hoje.
Câmbio oficial (agosto/2019)
1 real = 684 tugriks (dinheiro mongol)
1 dólar = 2655 tugriks
1 euro = 2950 tugriks
1 real = 1,79 yuan (dinheiro chinês)
1 dólar = 6,94 yuan
1 euro = 7,72 yuan
Existem duas fronteiras abertas para estrangeiros entre a Mongólia e a China: uma é a famosa que está perto de Zamiin Uud, utilizada pela maioria dos turistas e onde passa o famoso trem trans-mongoliano, e a outra está no extremo oeste, ligando uma parte remota da Mongólia com a conflitante província de Xinjiang, na China. Pouquíssimos estrangeiros se aventuram a cruzar por aí, e encontrar informações precisas sobre esta fronteira na Internet é bem difícil. Mas nós decidimos tentar a sorte, e deu tudo certo!
Khovd
A primeira coisa que você precisa fazer é chegar até a cidade de Khovd, capital de uma província de mesmo nome. Esta cidade fica localizada em uma região montanhosa de paisagem muito bonita, e está a cerca de 30 horas de ônibus de Ulan Bator. A passagem de ônibus custa na faixa de 70 mil tugriks.
Recomendamos que você arranje alguns yuan (dinheiro chinês) por aqui, pois você só encontrará casas de câmbio ou caixas automáticos chineses na cidade de Urumqi. Uns 500 yuan devem ser suficientes para toda a jornada.
O Khan Bank (um banco verde) troca dinheiro, e a comissão é muito boa. É possível sacar tugriks gratuitamente em seus caixas eletrônicos, e então trocá-los por yuan.
Guarde tugriks apenas o suficiente para a passagem da van (30 mil), a hospedagem em Bulgan (30 mil quarto de solteiro ou 40 mil quarto duplo), o ônibus para a China (15 mil) e para comer, pois será difícil trocá-los pelo caminho.
Khovd – Bulgan
Desde Khovd é preciso seguir até a cidade de Bulgan. Se quiser usar algum mapa como referência, utilize o Maps.Me, pois o Google Maps mostra tudo errado nesta parte.
Há vans e táxis compartilhados que partem para Bulgan. É fácil encontrá-los: estão bem ao lado do mercado, pertinho de onde os ônibus param. Oficialmente eles partem às 16h, mas talvez você dê sorte de encontrar algum que saia antes. No nosso caso, nós demos azar: deu problema na bateria do carro e acabamos saindo com 2 horas de atraso.
A passagem custa 25000 tugriks em van ou 30000 em carro (se der uma chorada, os carros fazem o preço da van). A viagem dura cerca de 6 horas. A estrada é toda asfaltada, e as paisagens que se veem pelo caminho são espetaculares.
Bulgan
Nós chegamos a Bulgan pouco depois da meia-noite, e o motorista já nos levou para um hotel (existem dois na cidade). No que ele nos levou o quarto custava 85 mil. Dissemos que era muito caro e ele nos levou a outro mais barato. Neste, o quarto individual custava 30 mil, e o duplo 40 mil. Ficamos aqui mesmo.
Nossa ideia inicial era acampar, mas sem chances de acampar nesta cidade: tudo é protegido por cercas, inclusive os trechos na estrada.
Em Bulgan existem caixas eletrônicos e teoricamente você pode trocar dinheiro aqui, embora seja difícil, já que você chegará tarde à cidade e partirá cedo no dia seguinte.
Bulgan – Takashikenzhen
Lemos alguns relatos de que era possível pegar um táxi compartilhado desde Bulgan até a fronteira, cruzá-la a pé e seguir com outro táxi do outro lado até Takashikenzhen. Aparentemente isso já não é mais possível, e só é permitido cruzar a fronteira de ônibus.
O ônibus parte de Bulgan às 9h da manhã, todos os dias, exceto fins de semana ou feriados (pois a fronteira fecha nesses dias). A passagem custa 15 mil.
A venda de passagens começa às 8h, e vale a pena passar lá cedo para garantir. Nosso ônibus não chegou a ir cheio, mas faltaram poucos lugares. Melhor não arriscar.
O ônibus passa na frente do lugar onde vendem as passagens (que é em frente ao hotel barato), e a viagem até a fronteira leva uns 40 minutos. Então você vai carimbar a saída da Mongólia, pegar o ônibus novamente para seguir até a imigração chinesa, carimbar a entrada neste país e seguir de ônibus novamente até Takashikenzhen. O ônibus para a cerca de 1,5km da cidade.
Takashikenzhen
Se você quiser passar a noite nesta cidade, o hotel mais barato cobra 120 yuan por um quarto duplo (é um hotel de uma cor entre o laranja e o rosa). A cidade não tem nada além de uma rua principal e uma paralela, mas pode ser uma parada para descansar.
Se quiser tocar direto para Urumqi, os táxis compartilhados cobram 250 yuan por pessoa (às vezes pedem 300, mas se der uma chorada eles baixam para o valor correto).
A polícia da cidade disse que se encarregaria de arranjar transporte para nós no dia seguinte.
Takashikenzhen – Urumqi
No dia seguinte esperamos a polícia e nada. Por volta das 11h decidimos sair para ver o que havia acontecido, e a recepcionista do hotel nos disse que havia um motorista para nos levar. Ele queria cobrar 300 yuan por pessoa. Recusamos e dissemos que iríamos arranjar transporte por nossa conta. Fomos até a feira e conversamos com o tiozinho que cuidava da entrada dos carros. Ele mesmo se encarregou de arranjar transporte para nós.
Então, com o novo motorista, seguimos para o hotel para buscar nossas mochilas. A polícia chegou e disse que não poderíamos ir com ele. Trataram de arranjar outro, que aceitou nos levar por 250. A viagem deveria durar 6-7 horas, mas acabou durando 9, em partes porque havia bastante controle policial, em partes porque o cara foi buscar uma encomenda em algum lugar e se perdeu.
Nessa viagem nos chamou a atenção a segurança extrema dos postos de gasolina: eram cercados por arames farpados, só entrava um carro por vez e havia pelo menos um policial em cada um. Parecia cena do filme Mad Max. Mas isso fica para um outro post…
Uma fronteira tensa
Xinjiang é uma zona de conflito. Existem movimentos separatistas na região, apoiados por grupos como a Al Qaeda e o Taliban. Ataques terroristas já aconteceram, e o governo chinês implantou no local um regime de repressão extrema. Turistas não são alvos diretos da repressão e nem dos separatistas, mas acabam sentindo as consequências dessas tensões.
A saída da Mongólia é bem tranquila. Nós éramos os únicos estrangeiros no ônibus, e fomos levados para uma sala separada para fazer o registro da saída. O pessoal era bastante simpático, e um oficial que falava inglês se serviu de nosso guia. As malas foram passadas no raio-x e, em menos de 20 minutos, já estávamos todos de volta ao ônibus, seguindo até a imigração chinesa.
No lado chinês a coisa complica. Novamente fomos separados do restante do grupo e levados para uma sala especial. Nesta sala pediram para ver nosso computador, nossas câmeras e nosso tablet. Estávamos com medo que fossem apagar as VPNs, mas aparentemente eles estavam preocupados apenas em olhar se tínhamos fotos comprometedoras. Uma foto de Gandhi, por exemplo, pode impedir a sua entrada (pelo menos é o que dizem, não sabemos se é verdade ou não).
Depois disso passamos por um equipamento de raio-x: tanto nós quanto as nossas bagagens. Teoricamente é proibido entrar com faca ou gás nesta região, mas tínhamos as duas coisas e não foram detectadas. Havíamos colocado a faca dentro de uma panela de ferro no fundo da mochila, e aparentemente o raio-x não consegue detectá-la deste jeito.
Então finalmente seguimos para a fila de imigração, mas nos tiraram de lá e nos chamaram para outra salinha. Ali nos perguntaram o que estávamos fazendo na região, que lugares visitaríamos e quanto tempo pretendíamos ficar. Devo dizer que nada disso foi realmente tenso, pois todos os oficiais eram bem simpáticos, e muitos deles estavam impressionados por sermos brasileiros (acho que nunca haviam visto alguém do Brasil viajando por aqueles lados). Estavam apenas seguindo os procedimentos. Mas, que é cansativo, é.
Liberados da salinha, fizemos a imigração. Para variar deu problema com o passaporte da Michele (aparentemente digitaram alguma coisa errada no nome dela quando fizeram o visto, e isso sempre faz com que sua entrada na China seja mais demorada). Mas passamos. Mais um raio-x, desta vez para verificar se não levávamos grãos, carne e essas coisas (aqui confiscaram nossa manteiga), e então seguimos em direção ao ônibus. No caminho, fomos parados por outro policial, que perguntou se seguiríamos direto para Urumqi ou se dormiríamos em Takashikenzhen. Dissemos que ficaríamos ali esta noite, e ele perguntou se queríamos um hotel barato ou um de luxo. Escolhemos o barato.
Então seguimos de ônibus os 15 quilômetros finais. Reparamos que, na estrada, há uma câmera de vigilância a cada 500 metros (ou menos). Realmente parece aquele futuro distópico previsto por George Orwell no livro “1984”.
O ônibus parou a cerca de 1,5 quilômetros da cidade. Então uma viatura da polícia encostou, e adivinha quem ela chamou? Sim, nós.
O resto do pessoal seguiu a pé, e a viatura nos levou até nosso hotel (pelo menos não tivemos que caminhar). Dentro do hotel havia um policial e um aparelho de raio x. Os policiais da viatura nos acompanharam até a recepção, e depois até o nosso quarto. Então nos disseram que providenciariam um carro para nos levar até Urumqi no dia seguinte, pela manhã. Não havia como recusar. E nós que pretendíamos tentar seguir de carona…
Um dos policiais (vale mencionar que nenhum falava inglês, e toda esta conversa foi por meio de um aplicativo de tradução) disse que poderíamos sair do hotel para comer ou para caminhar pela cidade, mas que fotos eram proibidas. Também disse que estávamos proibidos de chegar perto da ponte (não sei que ponte é essa). E, apesar de serem simpáticos, eram bem firmes, e entendemos a mensagem. Na Coreia do Norte até tivemos coragem de filmar lugares proibidos, mas aqui, definitivamente, não.
Aproveitamos a tarde para dar uma volta pela cidade, mas não vimos nada de interessante. Quer dizer, era interessante ver que muitos letreiros estavam escritos com alfabeto árabe, e que era preciso passar por um raio-x até mesmo para entrar na feira local, mas fora isso não havia muito o que fazer.
Vale lembrar que não existem caixas eletrônicos para cartões estrangeiros e nem casas de câmbio nesta cidade.
É isso, pessoal! Este foi nosso relato sobre a fronteira mais tensa que já cruzamos até hoje. Aqui está um vídeo mostrando como foi:
À medida que formos avançando por Xinjiang vamos trazendo mais informações para vocês!
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