Cruzando a fronteira de Xinjiang (China) com o Quirguistão

Como foi nossa experiência ao cruzar uma das fronteiras mais controladas da Ásia.

Referência (ago/2019)
1 dólar = 4,15 reais
1 dólar = 69,82 soms (dinheiro do Quirguistão)
1 dólar = 7,16 yuan (dinheiro chinês)

Por conta de temores com terrorismo e para coibir a ação de grupos separatistas, o estado de Xinjiang, na China, é extremamente controlado, o que torna o turismo na região bastante complicado. E, se é difícil viajar por lá, a coisa é ainda pior quando você quer sair.

Mas, com tempo e paciência, tudo se resolve. Aqui descrevemos como fizemos para ir desde a cidade de Kashgar (China) até Sary-Tash (Quirguistão).

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
Rota que fizemos: de Kashgar a Sary-Tash

Saindo de Kashgar

É bom sair o mais cedo possível, pois a imigração chinesa fecha para almoço às 13h30min, e só reabre pela tarde, às 16h. Ou seja: se você não conseguir passar antes das 13h30min, provavelmente só chegará ao seu destino de noite.

Nós fomos para a rodoviária (que fica um tanto distante do centro, próximo à estação de trens) em transporte público. Saímos do hotel às 7h50min, mas tivemos que esperar até às 8h20min no ponto, pois os ônibus não circulavam antes deste horário. No ponto de ônibus encontramos com mais 8 estrangeiros (5 japoneses e 3 europeus) que também se dirigiam ao Quirguistão. Isso era bom, pois seria mais fácil encher os transportes.

Chegamos à rodoviária por volta das 9h. Os guichês estavam começando a abrir, e já havia fila.

Não espere por boa vontade aqui (e nem em qualquer outro lugar de Xinjiang). Quando chegou a nossa vez de sermos atendidos, pedimos informação sobre transporte para Wuqiazhen (a cidade onde se faz a imigração de saída da China), e a mulher do guichê simplesmente respondeu: “no”. Não entendemos se não havia transporte, se ela não queria vender ou o quê.

Enquanto um italiano ficava discutindo com ela, nós prestamos atenção nos senhores das vans que gritavam o nome de alguns destinos. Um deles disse: “Wuqia!”. Nós fomos até lá falar com ele, e conseguimos uma van para todo mundo. A passagem custava 24 yuan (US$ 3,35) até a cidade, ou 35 (US$ 4,90) até a imigração. O valor de 11 yuan a mais para nos levar até a imigração é desproporcional (considerando que são só 4 quilômetros a mais), mas não adianta tentar fazer de outra forma. Toda essa região é extremamente controlada, e é pouco provável que a polícia deixe você ficar caminhando sozinho em Wuqia.

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
A van que nos levou até a imigração

O senhor da van pegou nossos passaportes e registrou nossa saída na polícia da rodoviária. Esperamos mais de 1h, até que finalmente partimos.

Imigração chinesa

A viagem, de cerca de 100km, levou quase 3 horas. Pouco antes de Wuqiazhen havia uma parada da polícia, onde passamos por um raio-X e fizeram mais alguns registros do passaporte. Perdemos aqui pelo menos 20 minutos, até que finalmente partimos para a imigração.

Antes da imigração em si havia mais um controle da polícia. Neste controle o policial deveria arranjar transporte público até a fronteira (que fica a 140km de distância). Não há ônibus no local: tudo é feito em táxis compartilhados (por isso é muito bom estar em grupo). A passagem custa 100 yuan (US$14) por pessoa (ou 400 yuan pelo carro inteiro, caso vá sozinho).

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
Prepare-se para muitas paradas da polícia no caminho

Primeiro a má notícia: não haveria táxis pela manhã, e teríamos que esperar até às 16h. Mas, depois de alguns telefonemas, ele conseguiu arranjar dois carros para nos levar. Eles apareceram e nós seguimos os 500 metros que faltavam até o prédio da imigração.

Chegamos lá faltando uns 5 minutos para fecharem para o almoço. Aqui nos fizeram algumas perguntas básicas, como quanto tempo ficamos na China, por que fomos lá e essas coisas. Os japoneses foram separados do grupo.

Por fim fizemos a imigração, carimbamos a saída da China, passamos as malas no raio-X e partimos. Neste ponto, nem nossos passaportes foram devolvidos: ficaram todos aos cuidados do taxista. Os japoneses não tiveram sorte: as perguntas para eles foram mais demoradas e a imigração acabou fechando. Só conseguiram seguir viagem depois das 16h.

Já lemos relatos de pessoas que tiveram as câmeras e celulares revistados nesta imigração, mas não foi o nosso caso. Os oficiais foram sempre bem simpáticos, e falavam inglês razoavelmente bem. Os japoneses (que acabamos reencontrando em Sary-Tash) nos disseram que revisaram todos os equipamentos eletrônicos deles.

Cruzando a fronteira

As vistas neste trecho são fantásticas: a paisagem continua desértica, mas as montanhas possuem colorações que variam entre branco, amarelo, vermelho e laranja. Pena que seja uma região de tão difícil acesso.

Fomos parados pela polícia no caminho para mais um controle e chegamos à fronteira pouco antes das 16h. Tivemos que esperar alguns minutos até ela abrir. Havia alguns mercadinhos e restaurantes para quem quisesse comer.

Por fim a fronteira abriu e o taxista nos levou até o limite da China. Passamos por mais dois controles da polícia, atravessamos um muro de cercas e entramos na terra de ninguém. Desde aqui tivemos que caminhar uns 500 metros até outro muro (este de arame farpado). Passamos por outro controle da polícia (desta vez do Quirguistão).

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
Seguindo a pé da China para o Quirguistão

Daqui até a imigração eram mais 3 quilômetros. Havia três opções: esperar uma carona (o que é algo difícil, dado o pouco movimento da estrada), esperar um táxi (dizem que cobram uns 3 dólares por pessoa para fazer o trajeto) ou ir a pé. Nós optamos pela última opção.

A entrada no Quirguistão foi bem tranquila. Brasileiros não precisam de visto, e o oficial de imigração não nos fez nenhuma pergunta. Em menos de 10 minutos, estávamos oficialmente em um novo país!

Ah, aqui é preciso atrasar o relógio em 2 horas.

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
A imigração do Quirguistão

Da fronteira até Sary-Tash (ou Osh)

Agora começa outro desafio. A cidade da fronteira é uma cidade minúscula, composta basicamente por alguns trailers. Há um hotel bem simples, uma mesquita, um posto de gasolina e alguns mercadinhos. E, claro, muitos taxistas oferecendo transporte até Sary-Tash ou Osh por valores absurdos.

Eles começaram pedindo 5 mil soms (US$ 72) pelo carro  para nos levar até Sary-Tash. Nós recusamos. Então foram baixando até chegar nos 3 mil. Seguimos recusando e fomos até a estrada tentar carona.

Não era fácil: apesar de haver movimento de caminhões indo para a China, parece que ninguém voltava de lá. E o pior: éramos 5 pessoas.

Por fim um taxista apareceu e se ofereceu para nos levar a todos por 1600 soms (US$ 23). Nós, um francês e um inglês, acabamos aceitando, e pagamos 400 soms por pessoa (US$ 5,75). Um italiano insistiu em ficar lá e seguir de carona.

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
O pessoal negociando o valor do táxi para Sary-Tash

Se a paisagem no lado chinês é bonita, a do Quirguistão é de cair o queixo. Já havia vegetação, os picos das montanhas eram cobertos de neve e havia cavalos e bois por todos os lados. Nas margens dos rios de água cristalina havia algumas casas de nômades instaladas. Poucas vezes na vida vimos paisagens tão bonitas quanto estas, e nos perguntávamos por que o Quirguistão era tão pouco conhecido pelo turismo.

A viagem até Sary-Tash durou pouco mais de 1 hora.

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
Estrada para Sary-Tash

Sary-Tash

Em Sary-Tash há um posto de gasolina onde trocam dinheiro (yuan, dólar, euros). A cotação é péssima, portanto recomendamos trocar somente o mínimo necessário.

Como referência, estavam trocando yuan a 9 e dólar a 64, enquanto em Osh as cotações eram, respectivamente, 10 e 69,70.

Se quiser seguir para Osh, pode tentar carona ou acenar para qualquer carro que passe. É bem provável que o carro seja um táxi compartilhado, e deve cobrar algo entre 300 e 400 soms (US$ 4,30 e 5,75) por pessoa.

Fronteira Xinjiang - Quirguistão
Sary-Tash

Nós passamos esta noite em Sary-Tash, na pousada Eliza (há inúmeras pousadas no vilarejo). A cama, em quarto compartilhado, custava 300 soms (US$4,30), ou 800 soms (US$ 11,46) incluindo café da manhã e janta.

Nós pegamos a opção que incluía as refeições, embora a qualidade da comida não justificasse o preço (é possível comer melhor e mais barato em qualquer restaurante).

Por volta das 23h apareceu o italiano. Ele passou o dia inteiro por lá e só conseguiu uma carona de noite (e ainda lhe cobraram 200 som).

E agora, hora de explorar a Ásia Central!

Aqui está um vídeo mostrando como foi cruzar esta fronteira:

Para mais dicas bacanas, não deixem de nos acompanhar em nossas redes sociais:

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6 comentários sobre “Cruzando a fronteira de Xinjiang (China) com o Quirguistão

  1. Sensacional!

    Estou acompanhando vocês pelo Youtube (por onde conheci vocês), Instagram e agora aqui! hehe

    Tô adorando os videos, quero tentar (e vou conseguir) assistir todos. Casa vez que assisto um vídeo de vocês, tenho mais vontade de conhecer essas partes diferentes do mundo!

    Muito sucesso, saúde e sorte para vocês! <3

  2. Estou adorando ver os vídeos de vocês, a gente aprende muita coisa, inclusive países que num tinha ouvido falar. Adoro quando vocês procuram saber como as pessoas locais vivem. Nesta parte que estão agora, antiga União Soviética, tenho muita curiosidade de saber como viviam e como vivem agora. No episódio passado deu pra ter uma ideia. ( Quirguistão). Obrigada a vocês!!! Abraços

  3. Descobri os vídeos de vcs assistindo o do deserto de Gobi. Parabéns ao casal pela simplicidade e pelo conhecimento que difundem. Uma pergunta: Renan é mineiro? Ele se parece com alguém com quem trabalhei, até no timbre de voz.

  4. Oi meu nome e Sandro
    Tudo bem com vcs
    Olha eu amo o trabalhado de vcs,falando sobre a história de cada país e suas atividades e seus conceitos e religiões
    Parabéns
    E continuem sempre com está humildade de que vcs tem.

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