Da Colômbia ao Panamá em barco, passando por San Blas

Decidir como cruzar da Colômbia ao Panamá é um grande dilema para muitos viajantes. Nós fomos em barco, por conta própria, e temos certeza que foi a melhor opção! Aqui descrevemos como foi nossa experiência.

Câmbio oficial (março/2017)
1 real = 940 pesos colombianos
1 dólar = 3,10 reais

Mergulhando com estrelas-do-mar em San Blas
Cruzando a fronteira Colômbia-Panamá por mar, você poderá passar por lugares assim

A falta de estradas entre a Colômbia e o Panamá é um dos principais fatores que impedem muitos viajantes de ir até a América Central. E aqueles que insistem tem um grande problema: seguir de avião ou pelo mar? O avião costuma ser a opção mais econômica, mas aí se perde o melhor da viagem: praias paradisíacas e quase inacessadas da Colômbia e as lendárias ilhas do arquipélago de San Blas.

Infelizmente os veleiros e tours que fazem este recorrido são caríssimos (algo em torno de 500 dólares por um tour de 4 dias), o que desestimula muita gente. E quase ninguém sabe como ir por conta própria, já que quase não há relatos ou informações na internet.

Felizmente nós resolvemos arriscar, e vivemos neste percurso algumas das melhores experiências da viagem até agora! Aqui compartilhamos todas as dicas com vocês para que possam fazer o mesmo.

O recorrido

O percurso a se fazer, desde Cartagena até a Cidade do Panamá, é este:

Recorrido desde Cartagena até a Cidade do Panamá
Recorrido desde Cartagena até a Cidade do Panamá

Nós demoramos 15 dias neste recorrido, e gastamos aproximadamente 3 mil reais (1500 cada um). Poderíamos ter feito em menos tempo e gastado menos dinheiro, mas a beleza de Capurganá e de San Blas nos fez alargar um pouco mais a viagem.

Neste recorrido, você deve fazer o seguinte:

Cartagena -> Capurganá

Capurganá é a cidade onde você deverá carimbar a sua saída da Colômbia. Também é uma praia paradisíaca, que merece alguns dias do seu tempo.

Até lá, não há acessos por estrada: você deverá seguir de ônibus até Necoclí ou Turbo, e então pegar um barco até Capurganá. Este barco custa 70 mil, e o translado dura 2 horas.

Paradisíaca praia de CapurganáParadisíaca praia de Capurganá
Paradisíaca praia de Capurganá

Para ler todos os detalhes de como chegar até Capurganá, leia nosso post aqui.

Se quiser aproveitar uns dias nesta linda praia, leia mais informações aqui.

Capurganá -> Puerto Obaldía (Panamá)

Carimbada a saída da Colômbia, você já pode seguir ao Panamá. Para chegar lá, só em barco, que custam 30 mil por pessoa, em um trajeto que demora pouco menos de 1 hora.

A primeira cidade panamenha é Puerto Obaldía que, assim como Capurganá, não possui acesso por estradas. Lá você deverá carimbar sua entrada no país. A imigração foi bem tranquila e não nos pediram nada, embora seja necessário ter o comprovante da vacina da Febre Amarela e mostrar 500 dólares (em dinheiro ou cartão de crédito).

Praça central de Puerto Obaldía
Praça central de Puerto Obaldía

Para ler mais detalhes sobre esta travessia e sobre como foi nossa imigração em Puerto Obaldía, leia nosso post completo aqui.

Puerto Obaldía -> Cidade do Panamá

Para seguir de Puerto Obaldía até a capital é razoavelmente fácil: basta pegar um barco até o porto de Cartí, e de lá um 4×4 até a Cidade do Panamá. O barco cobra 110 dólares pelo translado, que dura cerca de 8 horas (dependendo da lancha e das condições do mar). Além deste valor, é preciso pagar 20 dólares de entrada para a reserva Kuna Yala.

O carro de Cartí à capital custa 25 dólares.

Porém, em vez de fazer o trajeto direto, o ideal é seguir por San Blas, um arquipélago paradisíaco, cheio de paisagens lindas e de uma cultura riquíssima. Abaixo contamos como foi nosso recorrido!

Isla Perro, em San Blas
San Blas é composta por 365 ilhas, muitas delas assim.

Viajando por San Blas

Aqui vamos contar como foi nossa viagem. Se quiser saber mais detalhes sobre San Blas, leia nosso post completo aqui.

Passamos duas noites em Puerto Obaldía: a primeira, porque chegamos tarde, e os barcos para San Blas já haviam saído (geralmente saem antes do meio-dia). A segunda foi porque era domingo, e ninguém saiu neste dia.

Mas a espera valeu a pena: na segunda, apareceu um barqueiro, que era também um comerciante. Disse que poderia nos levar pelos 110 dólares, se não nos importássemos de acompanhá-lo de ilha em ilha enquanto ele vendesse suas mercadorias. Sua viagem demoraria 3 dias, e os gastos de hospedagem e comida ficariam por nossa conta (ele levava um fogão, assim poderíamos cozinhar).

Com certeza topamos! Quem quiser seu contato, ele se chama Joe e seu whatsapp é +57 312 2047 846.

Fizemos praticamente o mesmo recorrido que a empresa San Blas Adventures, que cobra 500 dólares pelo tour, com as refeições e as hospedagens. Chegamos a cruzar com eles em um restaurante: eles estavam comendo macarrão, enquanto nós comíamos peixe fresco e lagosta. Que ironia!

O barco com o qual viajamos da Colômbia ao Panamá

Nosso grupo foi de 7 pessoas: nós, um outro casal, um espanhol, o lancheiro e seu ajudante.

A primeira parada da viagem foi na ilha de Calidonia.

Calidonia e a ilha Atidub

Viajamos por cerca de 2 horas até chegar à ilha de Calidonia, onde havia uma pequena aldeia dos indígenas Kuna Yala. A riqueza cultural deste lugar é impressionante: as casas são feitas de bambu, com telhado de folhas de coqueiro e chão de terra. Entre si, as pessoas falam seu idioma nativo, mas a maioria entende espanhol.

Infelizmente, por ser o local onde o pessoal da San Blas Adventure passa a primeira noite, a coisa por lá já está bem turistica. Se quiser fotografar, é preciso pagar 1 dólar (por foto). Também se cobra 3 dólares de entrada.

Tínhamos a opção de passar a noite ali ou em uma ilhazinha ao lado, chamada Atidub, onde só havia uma casinha, habitada por um senhor e seu filho. Apesar de estarmos encantados com Calidonia, não resistimos à beleza natural de Atidub. Fomos para lá mesmo!

Atidub, San Blas
Acampando na ilha praticamente deserta de Atidub

Acampamos por 13 dólares por pessoa (10 de hospedagem + 3 de imposto para Calidonia), à beira da praia (eles forneciam a barraca). A noite foi incrível, acompanhada pela lua cheia e por uma fogueira que fizemos na areia.

Jantamos polvo cozido e patacones por 4 dólares.

Ilha Tulipe

Saímos cedo, e seguimos mais umas horas de viagem. Paramos para almoçar em uma ilha no caminho. Serviam peixe cozido por 10 dólares, ou lagosta (grande) por 16 dólares. Foi aqui que cruzamos com um grupo da San Blas Adventures. Eles mesmo preparavam a comida de seus clientes: macarrão com pão.

A ilha era bonita, mas não tinha praia. Seguimos para uma ilha vizinha, chamada Tulipe, onde também havia uma aldeia indígena. Esta, por não ser tão turística, era ainda mais autêntica e seus moradores mais simpáticos. Nenhum deles se importava se tirássemos fotos. Pelo contrário: ficavam muito orgulhosos! Além disso, adoravam contar as histórias e explicar o funcionamento de sua comunidade.

Ilha de Tulipe, San Blas
Nós na aldeia indígena de Tulipe

Passamos a noite aí por 5 dólares cada um, dormindo na rede. Em um quarto, o preço ficava em 7 dólares por pessoa. Jantamos peixe em um restaurante do local por 2,50 dólares.

Nesta ilha, percebemos uma coisa triste: como estava fora da rota turistica, os moradores não se importavam muito com a limpeza, e todo o lixo era jogado no mar. As águas cristalinas do caribe revelavam uma quandidade absurda de roupas, latas, embalagens e garrafas que descansavam lá no fundo.

Esperamos que esta atitude mude logo, antes que eles acabem perdendo este paraíso.

Ilha Yandup Narganá

Acordamos cedo, e Joe foi vender suas mercadorias. Pedimos que ele nos levasse a uma ilha vizinha para aproveitarmos uma praia.

Chegamos até lá e tudo seria lindo, não fosse a enorme quantidade de lixo. Nem conseguimos nos banhar, com medo de cortar o pé em alguma coisa.

Praia de San Blas cheia de lixo
Praia paradisíaca, sendo perdida pelo lixo.

Nesta ilha havia uma construção abandonada, feita de alvenaria. Averiguamos e vimos que se tratava de uma escola. Tinha tudo: dormitórios, carteiras, cadernos… só não tinha alunos. Uma mulher que cuidava do local nos disse que o governo do Panamá construiu tudo, menos a ponte que permitisse aos alunos irem até lá. Parece que governantes incompetentes existem em todos os lugares…

De lá, seguimos até Yandup Narganá, duas ilhas interligadas por uma ponte. No caminho, o ajudante de Joe cozinhou polvo para nós – e era um excelente cozinheiro. Melhor polvo que já comemos na vida!

Yandup já estava próxima à região turística. Estas ilhas já eram bem modernizadas, com muitas construções de cimento, mercados e até um banco. Sua aparência era mais a de uma cidade humilde do que a de uma aldeia indígena. A quantidade de lixo no mar desta região também era assustadora. Fez um triste contraste com as arraias e golfinhos que vimos por ali…

Passamos a noite aqui em um hotel por 6 dólares cada um.

Crianças brincando em uma canoa em San Blas
Crianças brincando em uma canoa em San Blas

Narasgandub

De Yandup seguimos ao paraíso: aqui começava o setor turístico de San Blas, com inúmeras ilhas paradisíacas, e todas elas limpas. Em pouco mais de uma hora, chegamos a Narasgandub, uma ilha com algumas hospedagens e uma praia de água verde e bem transparente. As hospedagens ficavam em 20 dólares por pessoa, ou 35 com as três refeições incluídas. Perguntamos sobre acampar, e nos fizeram por 15 dólares por pessoa, incluindo as refeições. Perfeito!

Joe passaria a noite ali também, e no dia seguinte poderia nos levar para Cartí, de onde seguiríamos à Cidade do Panamá. Decidimos que o melhor era nos despedir dele e depois irmos por nossa conta (o pessoal da ilha cobrava 10 dólares por pessoa para levar), assim aproveitaríamos San Blas pelo tempo que quiséssemos.

Narasgandub, San Blas
Acampando na ilha de Narasgandub

Também ofereciam passeios para outras ilhas. Fizemos um para Isla Perro e Fragata por 20 dólares, e outro para Isla Pelicano e para um banco de areia cheio de estrelas do mar por 10 dólares.

Depois de dormir por lá 3 noites, finalmente seguimos para Cartí, onde conseguimos um 4×4 para a Cidade do Panamá por 25 dólares por pessoa.

Sem dúvidas o recorrido valeu todo o tempo e dinheiro gastos! Esta está entre as melhores experiências da nossa viagem até agora.

Comendo lagosta em San Blas
Lagosta, um dos pratos típicos de San Blas

Dicas

  • O último lugar que você terá caixa eletrônico é Necoclí ou Turbo. Depois daí, só conseguirá sacar dinheiro novamente na Cidade do Panamá. Certifique-se de levar dinheiro suficiente para a travessia.
  • A oferta de transporte em alguns lugares é um pouco limitada: só faça esta viagem se tiver tempo e algum dinheiro de sobra, pois é possível que precise passar alguns dias a mais do que o planejado em algum lugar. Se tiver com o tempo apertado, melhor seguir em algum tour.
  • Se puder escolher, procure pegar um barco com dois motores. Assim, caso algum dê defeito, você terá o outro para te salvar de ficar perdido no mar.
  • Embale todo o seu equipamento em sacos de lixo, pois a travessia molha muito.
  • Se tiver, leve óculos. Não tanto pelo sol, mas para proteger os olhos da água do mar, que com certeza vai respingar no seu rosto durante as viagens de barco.

É isso aí pessoal! Ficaram com alguma dúvida? Só perguntar!

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8 comentários sobre “Da Colômbia ao Panamá em barco, passando por San Blas

  1. Uau, que Aventura! Bem melhor mesmo que ir de avião, porém achei muito caro. O que acaba valendo no final é estar incluso San Blas, que partindo dá ciudad de Panamá, se torna muito caro. Estou tentando uma barganha para los Roques, mas ta difícil também, mesmo assim vou encarar. 😐

    1. Realmente, este cruce foi a parte mais cara da viagem até agora. Se cortar San Blas fica mais econômico (vai gastar só os 100 dólares do avião), mas perde o melhor da viagem!
      Boa sorte com Los Roques! Deve ser maravilhoso. Queríamos ter ido, mas não encontramos nada econômico 🙁

  2. Galera depois de um tempo sem acompanhar vcs organizando minha trip de férias pela Espanha agora voltei. Olha, ficamos 21 dias na Espanha e confesso que estou contente por voltar pra casa. Por isso acho vcs grandes heróis. Queria ter esse desprendimento de ficar tanto tempo longe do “ninho” sem sentir falta. Arrumar e desarrumar malas, organizar a próxima etapa, horas e horas de ônibus, os imprevistos, o tempo que eu consigo conviver com isso e me divertir ainda é limitado. Mas ainda é maior do que a maioria das pessoas que conheço (na verdade a maioria nem viaja). Um dia ainda vou ter esse desprendimento do conforto e das facilidades de uma vida enraizada kkkk). De novo, parabéns pra vocês!!

    1. Fala rapaz!
      Quando estávamos na Venezuela, chegamos a pensar em dar um pulo no norte do Brasil e depois seguir para as guianas. Mas logo desistimos, porque acho que, se colocássemos um pé no Brasil, não iríamos querer sair mais. Às vezes dá saudades de casa mesmo, principalmente de ficar uns dias sem fazer nada.
      Acho que é um dos motivos porque viajamos tão devagar: quando encontramos um lugar barato, descansamos uns dias, mesmo que não tenha nada para fazer. Pode parecer estranho, mas às vezes faz falta passar um domingão vendo TV! Assim recarregamos as baterias para seguir em frente.
      Um abraço, e um dia a gente se cruza por aí!!

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